Há crianças no mundo espiritual?


Por João Eduardo Ornelas / CEAG

Há crianças no mundo espiritual? Várias obras psicografadas trazem relatos de crianças no mundo espiritual. Nas reuniões mediúnicas médiuns relatam terem visto ou sentido presença de crianças. São comuns descrição de cenas com crianças brincando, rindo e cantando.

Vejamos o que diz o Livro dos Espíritos, na questão 381 Kardec pergunta aos espíritos: Pergunta: Por morte da criança, readquire o Espírito, imediatamente, o seu precedente vigor? Resposta: "Assim tem que ser, pois que se vê desembaraçado de seu invólucro corporal. Entretanto, não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais nenhum laço exista entre ele e o corpo."

Vemos portanto que, o espírito que animou o corpo de uma criança, ao desencarnar readquire sua forma anterior se apoderando de sua bagagem moral e intelectual conquistada nas precedentes encarnações. Ele não permanece como criança no mundo espiritual.

Mas é de nosso conhecimento que todo espírito que desencarna, não somente a criança, leva um tempo mais ou menos longo, dependendo de seu adiantamento moral, para se desligar do corpo físico e da ultima personalidade vivida na carne. O que se denomina perturbação ou crise da morte existe para todos podendo ser para alguns de duração curta (algumas horas ou até minutos), ou demorado para outros (semanas, anos, décadas...).


Por dedução lógica entendemos que há crianças que desencarnam e recobram quase que imediatamente sua condição espiritual plena devido ao seu adiantamento moral, a maioria tendo em vista a resposta recebida por Kardec na questão supracitada. São aquelas crianças que aqui na terra por vezes demonstram grande maturidade, discernimento, equilíbrio e sabedoria apesar da tenra idade. Temos vários relatos de fatos semelhantes no dia a dia e também nos livros espíritas. Na obra da codificação “O Céu e o Inferno” o espírito do menino Marcel, no primeiro caso do cap 8 da segunda parte ilustra bem o que queremos dizer. Por outro lado há crianças cujos espíritos ainda estão pouco evoluídos que se prendem por um tempo mais longo a suas personalidades infantis, se acreditando ainda crianças, mantendo a aparência e a conduta infantis. Essas precisam ser amparadas, orientadas e conduzidas no plano espiritual. Daí talvez o relato de algumas obras mediúnicas que narram a existência de instituições ou organizações destinadas a cuidar desses espíritos, não crianças, mas ainda fixados na forma infantil.

O espírito André Luiz, no livro “Entre a Terra e o Céu” segundo nos conta visitou uma dessas instituições denominada “Lar da Bênção” onde havia várias crianças. No momento da visita algumas delas recebiam a visita das mães ainda encarnadas cujos espíritos se encontravam emancipados pelo sono físico. Segundo foi informado a André, as crianças permaneciam ali recebendo cuidados e instrução até recobrarem sua condição de adultos assumindo a consciência de seu patrimônio espiritual, ou reencarnarem sem ainda terem adquirido essa condição para na carne continuarem sua trajetória. A segunda opção, o reencarne rápido, seria o destino da maioria dos espíritos internados no Lar da Bênção.

É também de André Luiz a consoladora informação de que ele não encontrou crianças nas regiões de sofrimento no mundo espiritual que visitou, locais esses que ele denomina “regiões umbralinas”. Os espíritos que desencarnam nessas condições são logo encaminhados ao auxílio. A misericórdia divina não permitiria criançinhas assustadas chorando perdidas, vagando em regiões de sofrimento no mundo espiritual.


Via de regra, não há crianças no mundo espiritual, é o que informa a codificação espírita. Há espíritos que se apresentam como crianças porque estão fixados em sua última encarnação. Há outros que se libertaram do condicionamento infantil, mas se apresentam nas reuniões mediúnicas ou em sonhos com a aparência da última encarnação para se darem a reconhecer. Quantos às cenas relatadas pelos médiuns de crianças brincando em parques e cantando felizes podem ser a visão de uma instituição espiritual de auxilio a entidades ainda fixadas na forma infantil, ou podem ser cenas plasmadas pelo pelos espíritos a fim de criar um quadro ameno e agradável, uma ferramenta didática necessária ao trabalho em questão.

Por que tão freqüentemente a vida se interrompe na infância? Foi o que Kardec perguntou na questão 199. Resposta: "A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais."

A respeito do envolvimento dos pais no processo, o espírito André Luiz comenta: "Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a antiga apresentação que lhes era costumeira."

Aos pais que viram seus filhos partirem em tenra idade, para conforto e esclarecimento temos a dizer que:
a) Caso seu filho tenha demonstrado em seu curto período de vida no corpo físico grande equilíbrio, sensatez, inteligência e bondade, (fato freqüente) certamente trata-se de um espírito evoluído que, uma vez desencarnado recobrou sua bagagem anterior e está, de lá olhando pela família da qual está separado somente fisicamente.
b) Caso tenha sido uma criança normal, sem algum sinal aparente de evolução adiantada (o que não quer dizer que não a possua), seu filho não está sofrendo. Está no mundo espiritual recebendo amor, orientação e carinho a fim de recobrar sua memória espiritual e/ou reencarnar a fim de continuar sua trajetória.
c) Em ambos os casos pode-se obter contato, ter encontros e se matar a saudade por meios do pensamento, das preces e nos momentos de emancipação da alma pelo sono físico.
d) Também em ambos os casos é uma oportunidade de crescimento para os pais, por hora ainda incompreendido, mas que com certeza absoluta coaduna totalmente com a justiça divina na qual devemos confiar.

Fontes consultadas:
Allan Kardec – O Livro dos Espíritos
Allan Kardec -  O Céu e o Inferno
José Marcelo Gonçalvez Coelho – artigo “Crianças no Além” publicado no Portal do Espírito
André Luiz/FCX – Entre a Terra e o Céu
Allan Kardec – Revista Espírita – agosto 1866 – PDF da FEB


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